quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

*Entrevista sobre Informática*

No entanto, o tradicional, espírito criativo português poderia dar origem à existência de uma indústria nacional para produção de Software de aplicação mas, a também tradicional ausência de normalização (o plano oficial de contabilidade só há pouco tempo foi criado) predispõe a uma dispersão de esforços.
Quanto ao Hardware, parece-nos possível realizar a actividade de montagem quer sob licença quer sob outra forma de associação com empresas construtoras estrangeiras.
Qualquer realização, dos tipos referidos, necessita de vontade, planificação e perseverança, requisitos estes contrários ao nosso tradicional entusiasmo e impaciência para obtenção dos resultados.
Q4-Quais são em seu entender os vectores prioritários que deveriam nortear a evolução da Informática em Portugal? E quais as medidas políticas que os deveriam apoiar?
R4 – A dispersão de esforços existente conduziu a situações incompletas de regulamentação da Informática em Portugal; como exemplo apenas dois casos:
1 - A Constituição da República determina princípios a observar quanto às liberdades individuais na aplicação da informática, no entanto, a actividade informática não está regulamentada.
2 - O Decreto-Lei n." 110-A/80 define e regulamenta, funções informáticas, carreiras e a formação sumária para os técnicos da Administração Pública, no entanto, não existem escolas que ministrem a formação regulamentada.
A inexistência de legislação sobre matéria de informática poderá conduzir num futuro a situações totalmente descontroladas mas, por outro lado uma legislação demasiado pormenorizada poderá travar o crescimento da sua aplicação.
Parece-nos fundamental e imperiosamente necessária, a definição de linhas de orientação globais e a existência de um plano esquelético de desenvolvimento nomeadamente no domínio das telecomunicações aplicado à informática. A formação dos técnicos tem sido realizada a partir da «formação» ministrada pelos construtores e, pequenas experiências ao nível do ensino secundário nada têm produzido.
Nos estabelecimentos de Ensino Superior a informática tem sido ministrada como matéria acessória de outros curricula e apenas num se realizam licenciaturas específicas; a recente criação de um Instituto de post-graduação não permite ainda avaliar quaisquer resultados.
A carência de técnicos qualificados produz variações bruscas e oscilações no mercado de trabalho e só a criação de Escolas Profissionalizantes poderá, não só garantir a continuidade do futuro da aplicação da informática em condições de correcta utilização, como o amortecimento daquelas oscilações.
Q5 - Qual a sua opinião sobre a actual relação entre as empresas de serviço e as universidades/laboratórios de investigação? Que propostas concretas sugere para o seu melhoramento?
R5 - O divórcio tradicional entre universidades e empresas transpõe-se para a actividade Informática.
As poucas relações, existentes baseiam-se apenas nas relações individuais na maioria dos casos estabelecidas através da Associação Profissional existente.
A única forma de estabelecer a relação de um modo mais formal será o estabelecimento de diálogo entre as partes, não um diálogo disjunto mas em inter penetração empresa/universidade.
A universidade poderá beneficiar da experiência adquirida na Empresa e aquela poderá transmitir a esta os seus conhecimentos, não de uma forma didáctica mas numa real prestação de trabalhos em processos de investigação. Para que esta actuação seja possível é necessário modificar não só certos mecanismos legais como certos ressentimentos existentes de parte a parte.

Sem comentários: